segunda-feira, 27 de setembro de 2010

querido diário,

    Ela deitou em sua cama, na cama reservada a ela no alojamento, e no mesmo minuto olhou para o céu pela janela. Havia visto a lua cheia um dia por ali e sempre esperava por ver de novo. De tão concentrada que estava no céu noturno, não notou a presença de mais alguém no ambiente.
    - Ainda a espera da lua? - foi a pergunta dele.
    - Eu te juro que consigo vê-la daqui, mas é só alguns dias a cada ciclo, pelo jeito. Mas eu juro que falo sério, dá pra ver a lua deitada daqui!
    - Ei ei ei - ele apressou-se em dizer -, acalme-se! Eu acredito e por isso venho aqui todas as noites.
    - A lua, entendo... - ela não tirava os olhos da noite sem estrelas.
    Ele sentou-se, estava nervoso. Pensou em começar a falar...
    - É que...
    Silêncio, ele não conseguia, nem sabia porque estava pensando em esclarecer tudo. Ele que sempre foi tão reservado estava prestes a se abrir com alguém que conheceu em duas semanas de acampamento.
    Ela olhava atenta para ele, esperando que prosseguisse. Não queria perguntar para não forçá-lo a nada. Para sua sorte e seu alívio, ele continuou.
    - Desculpe - ele tentou começar de outro modo. - Eu não sei porque vou fazer isso, só por favor não me faça perguntas.
    Ele entregou a ela uma carta. Pelo menos parecia uma carta. Datava vinte e oito de julho de 2007. O papel já estava amassado, a letra era confusa, demonstrava pressa, haviam partes que pareciam ter sido molhadas. Lágrimas, ela supôs. Ela ficou apreensiva ao pegar o papel na mão. Era frágil. Abriu com cuidado e começou a ler.

    Querido diário,
eu preciso ir.

E era isso. Dava para perceber que a página havia sido arrancada de algum lugar. Um diário, foi o que ela pensou imediatamente. Ela devolveu o papel a ele totalmente confusa, mas sem fazer perguntas, como ele havia pedido.
    - Eu arranquei do diário dela. A intenção dela era sair sem deixar rastros, para eu não sofrer. Acho que eu sofreria ainda mais.
    Ela não sabia o que responder, então permaneceu com seus pensamentos. Levantou-se de repente, abriu sua mala, pegou o Caderno, abriu-o na última página escrita. A do dia atual ainda estava em branco. Ela pegou uma caneta, sentou do lado dele e escreveu.

    Querido diário,
eu te ajudo a recomeçar.

Ele não conseguiu conter as lágrimas.

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