domingo, 26 de junho de 2011

amanhã de ontem

Dói nela fechar os olhos pela noite sem saber o que esperar do outro dia. Incomoda não saber se está se arriscando por algo que realmente valerá a pena no final ou se está só perdendo forças. Gostaria ela de saber se tirará algo de tudo isso. Garanto, por aqui, que ela daria tudo o que tem e prometeria o que não tem só pra ver claramente o que virá adiante. Com seus olhos fechados, apenas espiaria por uns instantes. Só a tempo de ver onde estaria, com quem, em que estado físico e emocional. A que ponto teria chegado? Saberia, mesmo só com um pequeno momento, se seus pedidos ainda seriam os mesmos. Saberia o que tinha realizado e o que ainda faltava, conheceria mais cedo os novos sonhos. Teria algumas certezas. Leia-se bem o tempo verbal nas últimas divagações, apenas uma possibilidade imprópria. Um futuro do pretérito, um amanhã de ontem. O hoje. Hoje, mais um dia que ela fechará os olhos sem saber o que virá.

domingo, 5 de junho de 2011

barco sem porto

     O seguro sempre se mostrou o mais próximo. O tal banal porto para embarque e desembarque de novas emoções. Mas aquela instituição que sempre estava lá e que passava a certeza de que não mudaria de jeito nenhum, mudou. As paredes agora estão rachadas e o barco não encaixa mais da maneira como costumava fazer. Ele então vacila ao chegar onde deveria haver segurança.
     É nesse momento que as ondas parecem ficar cada vez mais raivosas. Agitadas e imperdoáveis, elas vêm com o intuito de virar o barco, como se isso não já estivesse se mostrado tarefa simples. O vacilo da embarcação é imperceptível para quem está longe, até porque não é a primeira tempestade sendo encarada. A evolução fez com que essa mesma embarcação se adaptasse de maneira a disfarçar seus maiores problemas, nenhum passageiro havia ficado alguma vez tão angustiado quanto o comandante. Ele nunca deixou, o disfarce era sua arma. Essa vez, porém, passageiros atentos demais notam a singela mudança, o que os deixa preocupados. A atenção dada ao comandante o faz desabar. O barco balança mais e mais, a tempestade piora e nada parece poder ser feito. A única vontade restante é de gritar o quanto aquilo está machucando e que qualquer ajuda é, ao mesmo tempo, inútil e necessária. O céu cinza e encoberto denuncia que aquilo durará por mais tempo. Toda a embarcação se pergunta por quanto mais aguentarão.