sábado, 24 de dezembro de 2011

tempo de espera

     Uma grande lista que se resume a um simples pedido. Em um ano com tanta mudança, tanta surpresa e tanta pressão, uma lacuna ainda ficava em branco durante os doze meses. Não seria caro preenchê-la. Talvez exigisse calma, paciência e tolerância, mas nada que não se encontre por aí em qualquer época do ano. Não teria gasto e ainda tornaria futuros pedidos mais simples.
     Nas últimas semanas do ano, todavia, o peso de não ganhar o que mais precisava aumenta. Falta aquele pequeno detalhe que despertaria o sorriso sincero e aliviado de alguém que buscou por isso durante todo um ano. Talvez realmente fique para o próximo ano. Talvez venha quando menos se espera, apesar de eu esperar por isso todo dia, apesar de eu esperar por apoio todo dia. 

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

sem querer dizer nada

Chega uma hora em que tudo sai do lugar, nada mais se encaixa, nada mais faz sentido. O medo do que está por vir ofusca qualquer brilho de boa esperança, toda uma segurança construída desaba. O amanhã continua incerto e o ontem certamente passou. Surge o saudosismo, bate a vontade de reviver o que já foi bom. A vontade é dar um passo pra frente e correr pra trás, mas algo aqui segura mais forte, puxa e arranca qualquer possibilidade de se desistir do futuro. Uma simples voz, não querendo dizer nada, diz tudo que precisava ser ouvido. Dura pouco, porque ruídos atrapalham; memórias, estranhos, conflitos ruidosos interferem, mas nada muda, aquela voz ainda acalenta. Impulsiona. Estimula. Conquista e segura. Segura firme ao presente, faz olhar pra frente, faz ver que dará tudo certo. Tudo volta a um lugar, tudo se encaixa, tudo faz sentido. O medo ainda persiste, mas a certeza de ter aquela voz sendo ouvida devolve a segurança. Ela é a segurança.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

não me machuque mais

Pior que aguentar uma dor é se ver machucado de novo sem nem ainda ter se curado. É a esperança de ficar bem sendo jogada pra longe, é a aflição de ver tudo voltando em proporções piores, é dor. É o arranhar no quadro-negro que permanece soando aos ouvidos por longos segundos, é estremecer. Implorar para que pare já não basta mais, tem-se então a certeza que não existe um não-sentir. Não adianta mais falar, reclamações e desculpas não são mais ouvidas; não tem mais pra onde fugir, seus refúgios são os que lhe machucam; resta apenas esperar. Esperar pelo tempo que se diz curador de tudo. Esperar quanto for, sem deixar de temer que outra mágoa e outro machucado se instale no local que está tentando ser curado.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

meio assim


Meia frase, uma briga. Meia palavra, olhares tortos. A parte que prevalece é a meia ruim, sem que haja uma outra meia boa para que se completem. Meio perdida, ela continua. Meio magoada, se segura. Nas horas que não aguenta mais, vira a cara e se perde em qualquer resquício de boa lembrança. Só abre os olhos quando está prestes a cair. Respira fundo, uma hora algo precisa dar certo. Não acha nem mais meia palavra, quando todos os desabafos possíveis já foram usados. Os diálogos estão praticamente todos decorados e ela se vê muda. Justo ela que sempre fora de falar e escrever tanto, fazendo com que a junção de palavras parecesse coisa fácil. E realmente parecia ser fácil quando choviam situações as quais despertavam aquele sorriso, aquele brilho no olhar e aquela vontade insana de traduzir tudo em palavras. Mas não é fácil agora, o brilho se ofusca e o sorriso se reduz a um meio sorriso falso. A vontade some. Quando aparece, decepciona. O olhar volta a ser desviado, ela se perde. Ninguém a acha mais, ela realmente se perde. Perde-se em pensamentos cheios demais, mergulha em ideias vazias, acaba pela metade. Ainda meio perdida, volta. Espera-se pelo dia em que ela volte completa.

domingo, 17 de julho de 2011

surpreendentemente comum

     A rotina acaba por ser uma calmaria, se for analisar. Claramente um dia pode ser irritante pelo fato de você ser amplamente irritável, do mesmo modo que pode ser divertido se você se deixar levar pelo humor. No final de tudo, todos os dias são iguais e isso que os torna tão bons a meu ver. Aprecio o seguir da carruagem, a continuidade e a linha definida. Escolho a razão, motivos concretos e deixo de lado os vacilos de uma curva. Por isso minha rotina acaba por me acalmar. Sei o que devo fazer, onde devo ir e quando devo parar. Mudar isso meio que me assusta. É como se eu andasse em uma corda bamba pedindo pra que ela não balançasse ou como se eu fosse simplesmente uma pedra lançada na água não querendo provocar oscilações. Quero só a certeza quando me cerco de dúvidas. Quero a calmaria e me apego à rotina como se fosse motivo suficiente. E quando algo inesperado me arranca um sorriso e me acalenta, me pego em uma contradição sem limite. Balanço a corda e mudo o curso da água, faço com que tudo vire de cabeça para baixo pra descobrir, então, uma nova calmaria.
     Isso acontece a cada abrir e fechar de olhos, a cada dia apego-me à mesma rotina para, no final, ter meus conceitos mudados. Com isso, garanto-me minha calmaria ao acordar e minha surpresa ao sorrir segundos antes de fechar meus olhos. É quando eu digo que até surpresas são rotineiras...

domingo, 26 de junho de 2011

amanhã de ontem

Dói nela fechar os olhos pela noite sem saber o que esperar do outro dia. Incomoda não saber se está se arriscando por algo que realmente valerá a pena no final ou se está só perdendo forças. Gostaria ela de saber se tirará algo de tudo isso. Garanto, por aqui, que ela daria tudo o que tem e prometeria o que não tem só pra ver claramente o que virá adiante. Com seus olhos fechados, apenas espiaria por uns instantes. Só a tempo de ver onde estaria, com quem, em que estado físico e emocional. A que ponto teria chegado? Saberia, mesmo só com um pequeno momento, se seus pedidos ainda seriam os mesmos. Saberia o que tinha realizado e o que ainda faltava, conheceria mais cedo os novos sonhos. Teria algumas certezas. Leia-se bem o tempo verbal nas últimas divagações, apenas uma possibilidade imprópria. Um futuro do pretérito, um amanhã de ontem. O hoje. Hoje, mais um dia que ela fechará os olhos sem saber o que virá.

domingo, 5 de junho de 2011

barco sem porto

     O seguro sempre se mostrou o mais próximo. O tal banal porto para embarque e desembarque de novas emoções. Mas aquela instituição que sempre estava lá e que passava a certeza de que não mudaria de jeito nenhum, mudou. As paredes agora estão rachadas e o barco não encaixa mais da maneira como costumava fazer. Ele então vacila ao chegar onde deveria haver segurança.
     É nesse momento que as ondas parecem ficar cada vez mais raivosas. Agitadas e imperdoáveis, elas vêm com o intuito de virar o barco, como se isso não já estivesse se mostrado tarefa simples. O vacilo da embarcação é imperceptível para quem está longe, até porque não é a primeira tempestade sendo encarada. A evolução fez com que essa mesma embarcação se adaptasse de maneira a disfarçar seus maiores problemas, nenhum passageiro havia ficado alguma vez tão angustiado quanto o comandante. Ele nunca deixou, o disfarce era sua arma. Essa vez, porém, passageiros atentos demais notam a singela mudança, o que os deixa preocupados. A atenção dada ao comandante o faz desabar. O barco balança mais e mais, a tempestade piora e nada parece poder ser feito. A única vontade restante é de gritar o quanto aquilo está machucando e que qualquer ajuda é, ao mesmo tempo, inútil e necessária. O céu cinza e encoberto denuncia que aquilo durará por mais tempo. Toda a embarcação se pergunta por quanto mais aguentarão.

terça-feira, 24 de maio de 2011

vale a pena encarar o frio?

     Ela, por aquele momento, só queria ter a coragem de chutar a porta e sair. Queria esquecer tudo que a ronda e só levar consigo a tal música calma, o sorriso que deixou saudade e aquele abraço que a domina e que faz seu mundo mudar o eixo. Um tanto de equilíbrio era necessário, a constante transferência de peso estava fazendo-a oscilar muito.
     A porta foi aberta e o vento frio afogou seu rosto. Seus pés sentiram o chão instável e a areia entrava em seu sapato. O meio sorriso em seu rosto foi uma pequena prova que o chão seguro, firme e duro de concreto não é sempre a melhor escolha só porque a estabilidade é maior. O risco de adentrar a noite escura a fazia ir pra frente; chegara a hora de assumir riscos. O sentimento de liberdade inundava-a de um jeito viciante a ponto de empurrá-la.
     Seu maior erro foi olhar para trás. A porta ainda entreaberta a fez lembrar da luz e do calor daquele colo. Já era falta o que ela estava sentindo? A nova pergunta que rondava sua cabeça era se o sofrimento seria realmente acalentado com a distância ou só seria mais uma preocupação adicionada. Ela parou sem saber pra qual direção dar o próximo passo.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

um texto falho

     E tudo que eu queria era me afastar disso de uma vez por todas. Ou por enquanto. Tentei virar meu imã para que repelisse o que todos querem atrair. Falhei. Tentei não trazer pro lado que estava pendendo, falhei. Tentei não deixar, falhei. Continuo falhando.
     Penso no quanto me falam que estou certa e percebo que, nessas horas, não me importo com isso. Queria ao menos uma vez ter a certeza de estar no caminho certo, queria que as pedras sumissem por uns instantes. Estou cansada de caminhar tendo que chutá-las, isso machuca meus pés e tarda meu andar. O problema maior é que chuto-as para frente, onde, passos depois, terei que chutá-las novamente. Mais uma falha minha.
     Já aprendi a olhar focada no horizonte, o chão não é mais o que prende meus olhos. Olho para frente, o que já é um começo incrível quando se trata de mim. Aprendi a não ser transparente, aprendi que a turbidez também pode ser encantadora. Estou me ensinando a ser turva e estou construindo uma cerca. Cercar-me-ei com o que me faz bem, mesmo quando isso trouxer mais confusão. Estou aprendendo tudo aos tapas, mas esse sempre foi o preço de querer mudar o que já estava escrito.
     Pouco se admira com o fato de eu querer mudar algo escrito para mim, sempre preferindo o escrito por mim quando se trata de algo meu. Aprendi sim a ser egoísta a esse ponto e não me envergonho disso. Quero ser a responsável pela minha história. Quero palavras apagadas e reescritas milhares de vezes, quero frases sem sentido. Quero parágrafos desiguais e contradições. Quero vários textos falhos. Quero falhar e aprender todo dia. Quero poder ensinar e falar sem parar, não quero controle. Quero rir quando posso, quando não posso e principalmente quando não devo. Quero querer cada vez mais. Quero poder tudo isso. Mas ainda tenho medo de falhar e não chegar nem perto de conseguir cada uma dessas coisas.
     Meu problema deveria ser a falta de alguém para me dizer que estou chutando as pedras certas e que estou falhando do jeito que devo falhar, mas a realidade consiste no fato de que eu não ouviria pessoa alguma. E mais um tópico é adicionado à lista de falhas minhas.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

sem outra imagem, sem reflexo

     Chegara a hora na qual o que se mostrou necessário foi simplesmente parar de querer brincar de ser Deus. O empecilho imposto em cada tomada de decisões estava com os dias contados. Ela estava cansada de não poder mais decidir o que quer que fosse por si só. Sentia-se cada vez mais amarrada.
     Talvez fosse pelo fato de tudo ter acontecido de maneira extremamente rápida, mas o que afligia-a naquele momento era a falta de liberdade. Ela simplesmente estava cansada de ouvir sobre onde deveria estar e o que deveria fazer. O que mais queria era querer o que quisesse, não o que queriam que quisesse. Mais confuso que isso só estava sua cabeça. E sua garganta, já que muita coisa era brutalmente forçada a descer.
     O passo pensado tornou-se inevitável. Ela não exigiu que ele acreditasse no que estava prestes a ouvir, mas a imagem que ela via no começo havia se distorcido. Estava tudo congelando...
     Ele tentou apontar o dedo novamente, não sabendo que a força presente no olhar dela seria capaz de entortá-lo. Ele continuou estático, ela quebrou seu dedo com o olhar. Não bastariam mais segundas chances, ela precisava fazer com que ele visse o absurdo que aquilo havia se tornado. Ele continuou com o dedo apontado, ela apontou o espelho. Ele implorou por um "coloque-se na minha posição", mas o problema maior é que quem só consegue olhar para si próprio não merece um ponto de vista.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

textual

     E a mesma história voltava do seu obscuro inconsciente com toda a força que adquiria de uma fonte que nem ela conhecia a existência. Voltava como uma onda raivosa que leva tudo o que vê pela frente sem nem pensar nas consequências. História aquela em que dar o passo errado fez com ela jamais apagasse aquelas palavras. E então, qualquer palavra mal encaixada a fazia voltar ao erro todo. Erro esse que a remete ao passado, passado esse que a faz lembrar do que havia esquecido. Ou dito que era página virada, porque o canto dessa página ainda estava em branco para que fosse escrita mais uma frase. Talvez um parágrafo...
     Ela sempre esperou que isso se tornasse muito mais que um simples texto, queria que aquele sentimento viciante penetrasse suas veias todo dia e a fizesse escrever sem parar uma história sem fim. A história dela. Ela queria uma história para ela. Todos sabem, porém, que o veneno não é eterno. O sentimento intoxicante diminuiu seu ritmo e o coração dela diminuiu suas batidas. O movimento de suas mãos ficou mais lento sobre as teclas. A letra já não era mais cursiva. O cantinho da folha estava realmente chegando ao fim.
     Fim da folha, última nota da melodia, um restinho de pó a se esvair, a luz a se apagar, os batimentos cessaram. A última sílaba pronunciada, o adeus, a partida surpresa, a última curva, o ponto final. Acabou.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

do bem para o bem

     E é o medo de não estar aqui amanhã que vai me fazer viver melhor o hoje? Vou precisar de angústia e sofrimento pra perceber que a vida deve ser vivida todos os dias? Vou precisar de superação para ter o direito de olhar para cada um que passar por mim e dizer "aproveite enquanto é tempo"?
     Há quem diga que são necessárias lágrimas para se dar o devido valor a um sorriso, quem diga que só se consegue dar valor ao perder e quem acredita que só se enxerga o bem quando se está cercado pelo mal. Continuo não entendendo o porquê da necessidade de estar cercado por coisas ruins (ou até ser dominado por elas) para se enxergar o bem que ainda tem espalhado à nossa volta.
     Não é o medo que deve reger nossa sinfonia; cada nota deve ser aprimorada com um sorriso, cada boa ação deve marcar uma nova melodia. Sentir falta ajuda a dar valor, mas não pede exclusividade; aprenda a dar valor quando ainda se tem por perto, não espere a distância pra perceber a importância. Ter sua confiança traída por alguém não é o único jeito de apreciar quem nunca causou-lhe isso; dê mais atenção àqueles que nunca te fizeram um mal sequer. A desconfiança, a tristeza, o medo e todos seus conterrâneos ruins não são os responsáveis mais indicados para lhe causar uma mudança de pensamento. Ninguém realmente precisa deles. O que todos (e cada um) precisamos é abrir nossos olhos para o que está perto. Valorize aquele sorriso que você vê e aquele "bom dia" que escuta todo dia pela manhã quando chega ao trabalho ou à escola, valorize cada pessoa que faz seus olhos brilharem e seu coração pular uma batida, valorize quem sofre o seu sofrimento junto com você, valorize quem não lhe deixa sozinho... Valorize-se. E não espere ser tarde demais.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Senhor Fevereiro merece respeito?

Seja bem vindo, Senhor Fevereiro. Venha com suas tradições e com seus atrasos, porque o país realmente só começa depois que você acaba. Venha com suas festas sem hora para começar e muito menos para acabar, venha com seus absurdos. Chegue mostrando ao que veio e então prove a mim que sua existência não se resume somente a isso. Mostre ao povo que vive contigo todo ano que podes ser algo mais que somente aquele mês que, uma vez ou outra, tem um dia a mais. Consegues ser algo que não seja o carnaval? Dos doze meses com os quais convivemos repetidamente, és o que menos me desperta interesse. E me parece que perdesse teu grande marco esse ano, não é? E agora? Sugiro que tente ser um mês decente. Aproveite essa liberdade da festa e mostre que podes ser um Mês pelo menos uma vez na (minha) vida.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

erre

Querendo ou não (e afirmo que, na maioria das vezes não se quer) precisa-se de talento para cometer erros. Talento e competência para um erro bem cometido. Qualidades usadas para algo ruim que é necessário muitas vezes. Errar faz bem, acredite. O problema maior, e que requer máxima atenção, é como errar. Não erre a maneira de errar, não abuse na dose e não abuse da sorte. Um erro premeditado é também um bom erro. Só não erre o quão errado quer estar... sirva para errar, tenha a audácia necessária, tenha coragem. Erre, campeão.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

maré (em) alta

Sentada na areia, consigo imaginar. Vendo o mar, consigo flutuar. As pessoas passam por mim, mas eu não as vejo realmente e sinto que estou somente em companhia dos meus pensamentos. Sinto o vento levantar meus cabelos e roçar minha nuca, a sensação me faz sorrir. Continuo sorrindo para algo que ninguém consegue ver; sinto o cheiro que tanto me faz lembrar de tudo isso. Crianças passam empolgadas com seus baldes e rastéis, os pais olham de longe aproveitando a alegria que a cidade cinza e chuvosa não proporciona aos seus filhos. Jovens passam abraçando-se e rindo, acompanhados de cangas e pranchas. Os mais velhos caminham, com a paciência e a determinação tão usuais. Consigo vê-los, mas não me permito enxergá-los. Permito-me, apenas, enxergar-me. E envolvida nessa desafio, deixo que o tempo passe. Conhecidos passam e cumprimentam-me, aceno para, minutos depois, não lembrar se fiz mesmo isso ou para quem fiz. O sol desce ao encontro do mar, a maré sobe ao encontro dos meus pés. A água ainda aquecida do calor vespertino me aquieta ainda mais. A noite vai caindo e a lua é quem aparece. Fria, gélida e imponente. A hora de dormir é a hora da cidade acordar. Ando despercebida pela areia, seguida pelas luzes da rua e seu movimento contínuo. Caminho em direção a lugar nenhum, vendo tudo passar como um borrão à minha volta. Olho para meus pés e percebo que o que eu mais queria era que algumas histórias fossem escritas sobre a areia, para que as marcas que me assolam fossem facilmente apagadas pelo vento ou pela maré, me trazendo novamente o cheiro tão familiar.

sábado, 1 de janeiro de 2011

um

Há um dia do ano em que fazemos questão de ficarmos atentos até seu último instante, chegamos ao ponto de contar os segundos para seu final com um sorriso no rosto. Mas ele é simplesmente o último do ano. Pergunto-me, em alguns momentos, por que não conseguimos fazer isso todos os dias de nossas vidas. Agradecemos com tanta veemência pela chegada de um dia, enquanto os outros 364 passam voando a nossos olhos.
Em poucos minutos prometemos por todo um ano. Em todo um ano não cumprimos o que prometemos em poucos minutos.
O dia de hoje é bem quisto por quase todos, mas ninguém pode dizer o que ele tem de tão especial. É entendível o fato de ele ser o primeiro, mas temos um primeiro dia a, aproximadamente, cada 30 dias. Pode ser visto também como uma nova chance de começar, mas ganhamos essa chance a cada abrir de olhos. Aproveitemos isso então, cada um dos 86400 segundos que nos são dados; façamos desse novo ciclo, oportunidades; e transformemos no glorioso trinta e um de dezembro e primeiro de janeiro, cada fusão de dias que temos pela frente.