sábado, 4 de fevereiro de 2012

é, quem sabe

     Tão grande e tão pequeno. Tão certo e tão indeciso de tudo. A vontade de dar passos a frente sem pensar é tamanha que o faz sorrir e pensar que aquilo não tem como dar errado. Em questão de segundos, toda uma cortina cai e o medo incessante de abandonar o já vivido é revelado. O desafio de conciliar antiga e nova vida bate à porta. Ele quer crescer, tem certeza disso, e mesmo se sentindo sem chão, já deu o primeiro passo. Vacilante, de fato, mas com direção traçada.
     O segundo, porém, começa a parecer mais complicado. Que direção seguir afinal? Que lado escolher? Sua mão esquerda é puxada para trás – “Fique por aqui, é tão mais seguro, é tudo que você sempre conheceu.” – com força suficiente para fazê-lo tropeçar nos próprios pés. É o mesmo princípio do lar, toda aquela segurança de andar de olhos fechados sem bater em nada. Estática, imobilidade, quietude. Por outro lado, sem paz, vive em um conflito eterno. Entra então sua mão direita, num encaixe perfeito, sendo puxada para frente. Um lugar sempre tão aconchegante – “Ei, estou aqui, o que está acontecendo? Eu vou te ouvir, eu sempre vou te ouvir.” – e tão tentador que o faz cometer ato impensáveis. Cego e nunca antes tão confiante, ele quer ir. Ah, como quer!
     Devaneando duvidoso, o segundo passo ainda não é dado. Talvez seja dado hoje. Amanhã, quem sabe. É provável. Sim, será dado. Hoje, provavelmente. Talvez amanhã. Quem sabe?

sábado, 24 de dezembro de 2011

tempo de espera

     Uma grande lista que se resume a um simples pedido. Em um ano com tanta mudança, tanta surpresa e tanta pressão, uma lacuna ainda ficava em branco durante os doze meses. Não seria caro preenchê-la. Talvez exigisse calma, paciência e tolerância, mas nada que não se encontre por aí em qualquer época do ano. Não teria gasto e ainda tornaria futuros pedidos mais simples.
     Nas últimas semanas do ano, todavia, o peso de não ganhar o que mais precisava aumenta. Falta aquele pequeno detalhe que despertaria o sorriso sincero e aliviado de alguém que buscou por isso durante todo um ano. Talvez realmente fique para o próximo ano. Talvez venha quando menos se espera, apesar de eu esperar por isso todo dia, apesar de eu esperar por apoio todo dia. 

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

sem querer dizer nada

Chega uma hora em que tudo sai do lugar, nada mais se encaixa, nada mais faz sentido. O medo do que está por vir ofusca qualquer brilho de boa esperança, toda uma segurança construída desaba. O amanhã continua incerto e o ontem certamente passou. Surge o saudosismo, bate a vontade de reviver o que já foi bom. A vontade é dar um passo pra frente e correr pra trás, mas algo aqui segura mais forte, puxa e arranca qualquer possibilidade de se desistir do futuro. Uma simples voz, não querendo dizer nada, diz tudo que precisava ser ouvido. Dura pouco, porque ruídos atrapalham; memórias, estranhos, conflitos ruidosos interferem, mas nada muda, aquela voz ainda acalenta. Impulsiona. Estimula. Conquista e segura. Segura firme ao presente, faz olhar pra frente, faz ver que dará tudo certo. Tudo volta a um lugar, tudo se encaixa, tudo faz sentido. O medo ainda persiste, mas a certeza de ter aquela voz sendo ouvida devolve a segurança. Ela é a segurança.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

não me machuque mais

Pior que aguentar uma dor é se ver machucado de novo sem nem ainda ter se curado. É a esperança de ficar bem sendo jogada pra longe, é a aflição de ver tudo voltando em proporções piores, é dor. É o arranhar no quadro-negro que permanece soando aos ouvidos por longos segundos, é estremecer. Implorar para que pare já não basta mais, tem-se então a certeza que não existe um não-sentir. Não adianta mais falar, reclamações e desculpas não são mais ouvidas; não tem mais pra onde fugir, seus refúgios são os que lhe machucam; resta apenas esperar. Esperar pelo tempo que se diz curador de tudo. Esperar quanto for, sem deixar de temer que outra mágoa e outro machucado se instale no local que está tentando ser curado.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

meio assim


Meia frase, uma briga. Meia palavra, olhares tortos. A parte que prevalece é a meia ruim, sem que haja uma outra meia boa para que se completem. Meio perdida, ela continua. Meio magoada, se segura. Nas horas que não aguenta mais, vira a cara e se perde em qualquer resquício de boa lembrança. Só abre os olhos quando está prestes a cair. Respira fundo, uma hora algo precisa dar certo. Não acha nem mais meia palavra, quando todos os desabafos possíveis já foram usados. Os diálogos estão praticamente todos decorados e ela se vê muda. Justo ela que sempre fora de falar e escrever tanto, fazendo com que a junção de palavras parecesse coisa fácil. E realmente parecia ser fácil quando choviam situações as quais despertavam aquele sorriso, aquele brilho no olhar e aquela vontade insana de traduzir tudo em palavras. Mas não é fácil agora, o brilho se ofusca e o sorriso se reduz a um meio sorriso falso. A vontade some. Quando aparece, decepciona. O olhar volta a ser desviado, ela se perde. Ninguém a acha mais, ela realmente se perde. Perde-se em pensamentos cheios demais, mergulha em ideias vazias, acaba pela metade. Ainda meio perdida, volta. Espera-se pelo dia em que ela volte completa.

domingo, 17 de julho de 2011

surpreendentemente comum

     A rotina acaba por ser uma calmaria, se for analisar. Claramente um dia pode ser irritante pelo fato de você ser amplamente irritável, do mesmo modo que pode ser divertido se você se deixar levar pelo humor. No final de tudo, todos os dias são iguais e isso que os torna tão bons a meu ver. Aprecio o seguir da carruagem, a continuidade e a linha definida. Escolho a razão, motivos concretos e deixo de lado os vacilos de uma curva. Por isso minha rotina acaba por me acalmar. Sei o que devo fazer, onde devo ir e quando devo parar. Mudar isso meio que me assusta. É como se eu andasse em uma corda bamba pedindo pra que ela não balançasse ou como se eu fosse simplesmente uma pedra lançada na água não querendo provocar oscilações. Quero só a certeza quando me cerco de dúvidas. Quero a calmaria e me apego à rotina como se fosse motivo suficiente. E quando algo inesperado me arranca um sorriso e me acalenta, me pego em uma contradição sem limite. Balanço a corda e mudo o curso da água, faço com que tudo vire de cabeça para baixo pra descobrir, então, uma nova calmaria.
     Isso acontece a cada abrir e fechar de olhos, a cada dia apego-me à mesma rotina para, no final, ter meus conceitos mudados. Com isso, garanto-me minha calmaria ao acordar e minha surpresa ao sorrir segundos antes de fechar meus olhos. É quando eu digo que até surpresas são rotineiras...

domingo, 26 de junho de 2011

amanhã de ontem

Dói nela fechar os olhos pela noite sem saber o que esperar do outro dia. Incomoda não saber se está se arriscando por algo que realmente valerá a pena no final ou se está só perdendo forças. Gostaria ela de saber se tirará algo de tudo isso. Garanto, por aqui, que ela daria tudo o que tem e prometeria o que não tem só pra ver claramente o que virá adiante. Com seus olhos fechados, apenas espiaria por uns instantes. Só a tempo de ver onde estaria, com quem, em que estado físico e emocional. A que ponto teria chegado? Saberia, mesmo só com um pequeno momento, se seus pedidos ainda seriam os mesmos. Saberia o que tinha realizado e o que ainda faltava, conheceria mais cedo os novos sonhos. Teria algumas certezas. Leia-se bem o tempo verbal nas últimas divagações, apenas uma possibilidade imprópria. Um futuro do pretérito, um amanhã de ontem. O hoje. Hoje, mais um dia que ela fechará os olhos sem saber o que virá.