sexta-feira, 29 de abril de 2011

um texto falho

     E tudo que eu queria era me afastar disso de uma vez por todas. Ou por enquanto. Tentei virar meu imã para que repelisse o que todos querem atrair. Falhei. Tentei não trazer pro lado que estava pendendo, falhei. Tentei não deixar, falhei. Continuo falhando.
     Penso no quanto me falam que estou certa e percebo que, nessas horas, não me importo com isso. Queria ao menos uma vez ter a certeza de estar no caminho certo, queria que as pedras sumissem por uns instantes. Estou cansada de caminhar tendo que chutá-las, isso machuca meus pés e tarda meu andar. O problema maior é que chuto-as para frente, onde, passos depois, terei que chutá-las novamente. Mais uma falha minha.
     Já aprendi a olhar focada no horizonte, o chão não é mais o que prende meus olhos. Olho para frente, o que já é um começo incrível quando se trata de mim. Aprendi a não ser transparente, aprendi que a turbidez também pode ser encantadora. Estou me ensinando a ser turva e estou construindo uma cerca. Cercar-me-ei com o que me faz bem, mesmo quando isso trouxer mais confusão. Estou aprendendo tudo aos tapas, mas esse sempre foi o preço de querer mudar o que já estava escrito.
     Pouco se admira com o fato de eu querer mudar algo escrito para mim, sempre preferindo o escrito por mim quando se trata de algo meu. Aprendi sim a ser egoísta a esse ponto e não me envergonho disso. Quero ser a responsável pela minha história. Quero palavras apagadas e reescritas milhares de vezes, quero frases sem sentido. Quero parágrafos desiguais e contradições. Quero vários textos falhos. Quero falhar e aprender todo dia. Quero poder ensinar e falar sem parar, não quero controle. Quero rir quando posso, quando não posso e principalmente quando não devo. Quero querer cada vez mais. Quero poder tudo isso. Mas ainda tenho medo de falhar e não chegar nem perto de conseguir cada uma dessas coisas.
     Meu problema deveria ser a falta de alguém para me dizer que estou chutando as pedras certas e que estou falhando do jeito que devo falhar, mas a realidade consiste no fato de que eu não ouviria pessoa alguma. E mais um tópico é adicionado à lista de falhas minhas.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

sem outra imagem, sem reflexo

     Chegara a hora na qual o que se mostrou necessário foi simplesmente parar de querer brincar de ser Deus. O empecilho imposto em cada tomada de decisões estava com os dias contados. Ela estava cansada de não poder mais decidir o que quer que fosse por si só. Sentia-se cada vez mais amarrada.
     Talvez fosse pelo fato de tudo ter acontecido de maneira extremamente rápida, mas o que afligia-a naquele momento era a falta de liberdade. Ela simplesmente estava cansada de ouvir sobre onde deveria estar e o que deveria fazer. O que mais queria era querer o que quisesse, não o que queriam que quisesse. Mais confuso que isso só estava sua cabeça. E sua garganta, já que muita coisa era brutalmente forçada a descer.
     O passo pensado tornou-se inevitável. Ela não exigiu que ele acreditasse no que estava prestes a ouvir, mas a imagem que ela via no começo havia se distorcido. Estava tudo congelando...
     Ele tentou apontar o dedo novamente, não sabendo que a força presente no olhar dela seria capaz de entortá-lo. Ele continuou estático, ela quebrou seu dedo com o olhar. Não bastariam mais segundas chances, ela precisava fazer com que ele visse o absurdo que aquilo havia se tornado. Ele continuou com o dedo apontado, ela apontou o espelho. Ele implorou por um "coloque-se na minha posição", mas o problema maior é que quem só consegue olhar para si próprio não merece um ponto de vista.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

textual

     E a mesma história voltava do seu obscuro inconsciente com toda a força que adquiria de uma fonte que nem ela conhecia a existência. Voltava como uma onda raivosa que leva tudo o que vê pela frente sem nem pensar nas consequências. História aquela em que dar o passo errado fez com ela jamais apagasse aquelas palavras. E então, qualquer palavra mal encaixada a fazia voltar ao erro todo. Erro esse que a remete ao passado, passado esse que a faz lembrar do que havia esquecido. Ou dito que era página virada, porque o canto dessa página ainda estava em branco para que fosse escrita mais uma frase. Talvez um parágrafo...
     Ela sempre esperou que isso se tornasse muito mais que um simples texto, queria que aquele sentimento viciante penetrasse suas veias todo dia e a fizesse escrever sem parar uma história sem fim. A história dela. Ela queria uma história para ela. Todos sabem, porém, que o veneno não é eterno. O sentimento intoxicante diminuiu seu ritmo e o coração dela diminuiu suas batidas. O movimento de suas mãos ficou mais lento sobre as teclas. A letra já não era mais cursiva. O cantinho da folha estava realmente chegando ao fim.
     Fim da folha, última nota da melodia, um restinho de pó a se esvair, a luz a se apagar, os batimentos cessaram. A última sílaba pronunciada, o adeus, a partida surpresa, a última curva, o ponto final. Acabou.