domingo, 5 de setembro de 2010

hoje seria seu dia

    Ela adorava aniversários. Sentia uma emoção indescritível, até mesmo quando estava em um restaurante e um felizardo desconhecido para ela estava sendo saudado com as palmas audíveis por todo o recinto. Ela parava qualquer conversa para bater palmas para o desconhecido. Seus pais morriam de vergonha; seus amigos estavam acostumados e entravam no clima. E todos eles sabiam que ela seria a primeira a ligar em seus aniversários; seria aquela que faria o presente (ela odiava a futilidade e a insensibilidade de comprar algo que outras pessoas também poderiam ter - ela amava o sentido de único); seria a dona das palavras mais bonitas. Era incrível como fazia sempre seus amigos chorarem com seus votos, parecia que ela tinha algo pronto. Não era o caso, deixa-se bem claro; o sentido da palavra sinceridade ela também vangloriava.
    Então não seria estranho que às sete horas e vinte minutos daquela manhã, um pouco antes do começo da aula, o telefone dele tocasse. Ele olhou para seus amigos.
    - Só pode ser ela, já estava estranhando a demora.
    Ele atendeu, silêncio do outro lado. Desligou sem entender nada.
    Essa história se repetiu por mais algumas vezes. Ele sentiu falta da ligação dela.
    Foi aí que percebeu que estava esperando, o tempo todo, por essa ligação. Não é que sabia que ocorreria, o fato maior é que ele queria que ocorresse.
    Mas por que, de todos os seus amigos, ela foi a única que não ligou? Ele segurou firme o celular a manhã inteira. E a tarde também. Só não dormiu agarrado com o celular porque ele realmente não dormiu. Esperou até o último minuto do dia com esperança que ela fosse ligar. Ele abriria o maior sorriso, mesmo ela não podendo ver, e contaria sobre essa aflição toda que sentiu. Ririam juntos. Ele pediria para se tornar mais que um amigo.
    Bateu meia noite. O telefone não tocou. Um pedaço de seu coração não seria mais tocado.

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