sábado, 16 de outubro de 2010

porta de sempre

    Ela sobe os degraus daquela tão conhecida escada. Prefere-as ao elevador, assim ganha mais tempo para pensar no que está fazendo. Como se ela não soubesse que não vai pensar em nada. Nessas horas o cérebro se desconecta do resto do corpo e parece não agir. Agir pela razão torna-se impossível.
    Segundo andar. Lembra de todas as vezes que foi com ele até esse mesmo lugar. De tudo que ouviu dele, de toda a ilusão que aquilo lhe causou. Nem de doce ilusão pode-se chamar.
    Terceiro andar e lembra dos momentos bons que passaram, do jeito que só ele conseguia fazê-la rir. Das piadas sem nenhuma graça que ele parecia ter na ponta da língua no momento que ela não queria ouvir gracinha nenhuma. Ela não resistia e ria.
    Quarto andar. Ela lembra do nervosismo do dia que se encontraram, de como, nesse momento, ela queria reviver aquele dia de outubro.
    Quinto andar e suas pernas estão quase doendo tanto quanto seu coração. Parece que achou um jeito de não sentir uma dor: criando outra.
    Sexto andar, porta 602. Ela bate, seu coração bate. Ela bate mais forte, mais rápido, mais alto; seu coração bate mais rápido, mais pesado. Ela não pensa em desistir, a única coisa que pensa é o motivo pelo qual seu coração insiste em bater sempre na mesma porta que se fechou.

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