segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

maré (em) alta

Sentada na areia, consigo imaginar. Vendo o mar, consigo flutuar. As pessoas passam por mim, mas eu não as vejo realmente e sinto que estou somente em companhia dos meus pensamentos. Sinto o vento levantar meus cabelos e roçar minha nuca, a sensação me faz sorrir. Continuo sorrindo para algo que ninguém consegue ver; sinto o cheiro que tanto me faz lembrar de tudo isso. Crianças passam empolgadas com seus baldes e rastéis, os pais olham de longe aproveitando a alegria que a cidade cinza e chuvosa não proporciona aos seus filhos. Jovens passam abraçando-se e rindo, acompanhados de cangas e pranchas. Os mais velhos caminham, com a paciência e a determinação tão usuais. Consigo vê-los, mas não me permito enxergá-los. Permito-me, apenas, enxergar-me. E envolvida nessa desafio, deixo que o tempo passe. Conhecidos passam e cumprimentam-me, aceno para, minutos depois, não lembrar se fiz mesmo isso ou para quem fiz. O sol desce ao encontro do mar, a maré sobe ao encontro dos meus pés. A água ainda aquecida do calor vespertino me aquieta ainda mais. A noite vai caindo e a lua é quem aparece. Fria, gélida e imponente. A hora de dormir é a hora da cidade acordar. Ando despercebida pela areia, seguida pelas luzes da rua e seu movimento contínuo. Caminho em direção a lugar nenhum, vendo tudo passar como um borrão à minha volta. Olho para meus pés e percebo que o que eu mais queria era que algumas histórias fossem escritas sobre a areia, para que as marcas que me assolam fossem facilmente apagadas pelo vento ou pela maré, me trazendo novamente o cheiro tão familiar.

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