sexta-feira, 8 de abril de 2011

textual

     E a mesma história voltava do seu obscuro inconsciente com toda a força que adquiria de uma fonte que nem ela conhecia a existência. Voltava como uma onda raivosa que leva tudo o que vê pela frente sem nem pensar nas consequências. História aquela em que dar o passo errado fez com ela jamais apagasse aquelas palavras. E então, qualquer palavra mal encaixada a fazia voltar ao erro todo. Erro esse que a remete ao passado, passado esse que a faz lembrar do que havia esquecido. Ou dito que era página virada, porque o canto dessa página ainda estava em branco para que fosse escrita mais uma frase. Talvez um parágrafo...
     Ela sempre esperou que isso se tornasse muito mais que um simples texto, queria que aquele sentimento viciante penetrasse suas veias todo dia e a fizesse escrever sem parar uma história sem fim. A história dela. Ela queria uma história para ela. Todos sabem, porém, que o veneno não é eterno. O sentimento intoxicante diminuiu seu ritmo e o coração dela diminuiu suas batidas. O movimento de suas mãos ficou mais lento sobre as teclas. A letra já não era mais cursiva. O cantinho da folha estava realmente chegando ao fim.
     Fim da folha, última nota da melodia, um restinho de pó a se esvair, a luz a se apagar, os batimentos cessaram. A última sílaba pronunciada, o adeus, a partida surpresa, a última curva, o ponto final. Acabou.

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